Pesquisando Toulose Lautrec vi essa obra que me remeteu a esssa de Kafka:
“Na Torrinha
Se alguma amazona frágil e tísica fosse
impelida meses sem interrupção ao redor do picadeiro sobre o cavalo
oscilante diante de um público infatigável pelo diretor de circo
impiedoso e de chicote na mão,sibilando em cima do cavalo, atirando
beijos,equilibrando-se na cintura,e se esse espetáculo prosseguisse
pelo futuro que se vai abrindo à frente sempre cinzento sob o bramido
incessante da orquestra e dos ventiladores, acompanhado pelo aplauso
que se esvai e outra vez se avoluma das mãos que na verdade são
martelos a vapor — talvez então um jovem espectador da galeria descesse
às pressas a longa escada através de todas as filas,se arrojasse no
picadeiro e bradasse o basta! em meio às fanfarras da orquestra sempre
pronta a se adaptar às situações.
Mas uma vez que não é assim, uma bela dama em branco e vermelho
entra voando por entre as cortinas que os orgulhosos criados de libré
abrem diante dela; o diretor, que busca abnegadamente seus olhos,
respira voltado para ela numa postura de animal fiel; ergue-a cauteloso
sobre o alazão como se ela fosse a neta amada acima de tudo que parte
para uma viagem perigosa;não consegue se decidir a dar o sinal com o
chicote; afinal dominando-se ele o dá com um estalo; corre de boca
aberta ao lado do cavalo; segue com o olhar agudo os saltos de amazona;
mal pode entender sua destreza; procura adverti-la com exclamações em
inglês; furioso exorta os palafreneiros que seguram os arcos à atenção
mais minuciosa; as mãos levantadas, implora à orquestra para que faça
silêncio antes do grande salto mortal; finalmente alça a pequena do
cavalo trêmulo,beija-a nas duas faces e não considera suficiente nenhuma
homenagem do público; enquanto ela própria, sustentada por ele, na
ponta dos pés, de braços estendidos, a cabecinha inclinada para
trás,quer partilhar sua felicidade com o circo inteiro — uma vez que é
assim o espectador da galeria apóia o rosto sobre o parapeito
e,afundando na marcha final como num sonho pesado, chora sem o saber.”Kafka, F. Um médico rural [Ein Landarzt]. Trad. Modesto Carone. 2-ª reimp. São Paulo: Companhia das Letras,2003, pp.22-23.
Mas conhecendo o temperamento desse grande pintor a imagem acima o representa melhor.
com uma cagada livre.